domingo, 8 de novembro de 2009

Liberdade, Sempre


Tinha acabado de chegar ao restaurante-café Galerias de Paris, um espaço fantástico da cidade do Porto, muito bem acompanhado, quando vi o Público no balcão. Fui buscar o jornal e sentei-me a ler na diagonal. Parei numa página que tinha como título "A primeira cidade comunista em solo alemão é hoje uma cidade fantasma", passei então para uma leitura atenta.

A cidade alvo daquele texto chama-se Eisenhüttenstadt ou Leninstadt (cidade de Lenine).

Aquele tinha sido, no passado, um modelo de cidade comunista. Actualmente é um deserto. Seguem-se então algumas entrevistas: um ex. trabalhador da fábrica antes da queda do muro; dois jovens que passavam na antiga avenida Lenine; e dois trabalhadores, também eles jovens, agentes imobiliários. De todos os entrevistados, apenas o primeiro, Tony Serowy, sente saudades dos tempos da RDA. Todos os outros transparecem revolta e vontade de sair. Os mais novos expressam-se com mais frontalidade "... não há futuro, não há trabalho, por isso penso ir embora." "Para onde?" "Oeste." "Onde no Oeste?" "Não faço ideia." "Fazer o quê?" "Não faço ideia." Os mais velhos contudentes e reconhecendo algumas virtudes ao antigo regime.


No fim do texto, a confissão de um deles (Christian Prütz) "Havia um bom sistema escolar, toda a gente tinha emprego, as pessoas não tinham medo do futuro... Há pessoas mais velhas que acham que antes era melhor. Mas nós preferimos viver neste sistema: podemos viajar, comprar o que quisermos."

E era exactamente aqui que não só esperava chegar, como sabia que ia chegar. A liberdade não é a única crítica que pode ser feita a um regime comunista, mas é, pelo menos para mim, a mais importante. Num regime como o imposto na RDA, não são as pessoas que decidem o seu rumo, têm que se sujeitar a uma doutrina que decide por elas. E porquê? Porque o homem é mau - é esta a premissa. E é uma premissa não só errada, mas também assustadora. Não é por acaso que tantas pessoas morreram a tentar saltar o muro durante a ocupação soviética, assim como não é por acaso que a Alemanha de Leste esteja hoje desabitada, abandonada, desacreditada.

A queda do muro representa, na minha opinião, não só a vitória do capitalismo sobre o comunismo, mas sobretudo a derrota de uma ideologia que não acredita nas pessoas, que as desvaloriza, que lhes impõe demasiados limites. A queda do muro representa, do meu ponto de vista, a atribuição de um valor fundamental a uma parte da Alemanha: a liberdade.

3 comentários:

  1. "In course of time some tribes developed new means of producing food and this change in the method of producing food enabled men to lead a different sort of life. They began to sow seed and rear cattle so that they should have food ready at hand whenever they wanted it. Primitive agriculture began to develop and there arose differentiation between the tribes. Some still concentrated on hunting as the principal method of producing food, but others became pastoral farmers. The latter could now produce more than required for their personal needs. They became rich in cattle and began accumulating wealth. Under these new conditions men captured in war were not killed as in former days. Now they were needed to plough the lands of their captors, to look after their wealth and to produce more wealth for the slave owners."

    http://www.rhodesia.nl/goodcom.html

    Devemos sempre olhar pra nos e ver o que ha de errado connosco antes de olhar para os outros e ver o que ha de errado com eles.
    Eu olho para nos e vejo o que ha de errado: somos gananciosos. O comunismo nao e demoniaco. As pessoas sao demoniacas. O comunismo e apenas impraticavel para nos, seres humanos.

    ResponderEliminar
  2. Não devemos confundir ganância com ambição. O regime que eu idealizo permite que as pessoas sejam ambiciosas, que se realizem mediante a sua vontade e não por imposições colectivistas.

    O comunismo é um regime que não permite que as pessoas vivam como gostariam, porque não admite a propriedade privada. Não posso aceitar, de todo, que o comunismo seja impraticável por culpa das pessoas, porque as ideologias existem para as servir. O comunismo é impraticável sim, porque é uma ideologia que não confere liberdade.

    O capitalismo tem defeitos? Muitos. Mas assim como a democracia, até pode ser o pior dos sistemas, mas é o melhor existente.

    ResponderEliminar
  3. Tens razao, o ser humano e ambicioso. E e por isso que o comunismo nao funciona connosco.

    Ambição: Desejo veemente (do que dá superioridade).
    http://www.priberam.pt/DLPO/default.aspx?pal=ambi%C3%A7%C3%A3o

    A ambicao e apenas uma palavra mais "socialmente aceitavel" para dizer "vontade de poder."
    Pelo que dizes sobre ambicao, assumo que concordes com a teoria de Nietzsche sobre a vontade de poder. Ou seja, segundo o que posso inferir, o comunismo nao e praticavel porque o ser humano tem uma necessidade inata de ser mais poderoso que o proximo, tambem conhecida como ambicao.
    Parece-me logico entao que, a liberdade a que te referes, seja a liberdade para desenvolver poder, ou seja afirmar a sua superioridade perante o proximo.

    Por mais que tente encontrar o problema no comunismo, apenas consigo encontra-lo nas pessoas. E devemos saber, que qualquer tentativa de pratica comunista foi totalmente falhada, e que qualquer regime politico que tenha tentado imitar este sistema social, tantas vezes encontrados na natureza, nao pode ser usado como exemplo para o "ideal" que e o comunismo.

    Eu, sendo um admirador da teoria de Nietzsche, nao apoio o comunismo pois, como tu, adoro exercer a minha liberdade para ser mais poderoso que os outros. Nao consigo imaginar a existencia humana sem ambicao/ vontade de poder. Mas, mesmo assim, consigo perceber o porque de um sistema social como o comunismo nao poder ser aplicado por seres humanos. O sistema nao e impraticavel; e apenas impraticavel por seres humanos por causa da sua vontade de poder, ou liberdade, ou ambicao, ou seja la o que lhe quiserem chamar.

    ResponderEliminar