quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O Peso do Silêncio

Estamos a dois dias das eleições legislativas, provavelmente as mais marcantes da próxima década. Decide-se, este Domingo, um rumo, uma estratégia para os próximos anos. Por isso mesmo, considero inaceitável o que se tem passado durante a campanha. O momento devia ser de intenso debate, de apresentação de propostas, de discussão de alternativas, mas tudo isso foi substituído, imagine-se, por novelas. E o pior, alimentadas pelo Presidente da República.

Toda esta confusão entre Belém e S. Bento beneficia claramente José Sócrates e o Partido Socialista. O mais certo seria, neste momento, o PS tentar justificar os 600 mil desempregados que provocou a sua legislatura, a humilhação dos professores, o suicídio orçamental que será levado a cabo pelo TGV, a sua intervenção e pressão junto da comunicação social, a política de facilitismo na educação, mas não... o assunto na ordem do dia é a demissão de Fernando Lima, acessor do PR. Tudo isto seria evitável se Cavaco falasse e desmistificasse toda esta historia. Não o faz e isso pode influenciar a intenção de voto, favoravelmente ao Partido Socialista.

A campanha foi, na minha opinião, reduzida por este caso. Seria importante que este assusto fosse definitivamente esclarecido, de modo transparente, para que no dia das eleições os portugueses possam votar por convicção e não por condicionamento.

Eleições Legislativas - Saiba onde votar


As eleições estão à porta e, mais do que nunca, a abstenção não é solução. Consulte a sua junta de freguesia para saber onde deve votar no próximo Domingo. Pode também recorrer ao site www.portaldoeleitor.pt ou ligar para 808 206 206.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

José Sócrates vs Manuela Ferreira Leite - Resumo e Crítica

O debate mais esperado da série teve lugar na SIC, com moderação de Clara de Sousa. José Sócrates (PS) e Manuela Ferreira Leite (PSD) estiveram frente-a frente para discutirem as suas propostas ao país. A intensidade foi notória em alguns temas, provocando intervenções mais acesas entre os dois candidatos. Foi também o debate mais longo, com 60 minutos de duração.

Resumo

Os principais temas abordados foram: economia, estado social, saúde, educação. O debate terminou com a sondagem, por parte da moderadora, acerca de um possível entendimento pós-eleitoral. Não se referiu o caso TVI, nem o último episódio da Madeira.

Em relação à economia, José Sócrates apresentou-se fiel ao que têm sido as suas intervenções. Voltou a afirmar a necessidade dos grandes investimentos públicos para superar a crise e o apoio do governo, durante a sua legislatura, às PME. Ferreira Leite opôs-se à solução apresentada pelo PM, reafirmou que caso seja eleita suspenderá o TGV e as outras obras de grande envergadura, apoiará as empresas para estimular a economia e criar riqueza. Criticou duramente o rumo político de Sócrates, utilizando a polémica frase "Parece daqueles que mata o pai e a mãe para dizer que é órfão", numa clara alusão às políticas sociais levadas a cabo pelo PS. O endividamento e o incentivo empresarial foram os dois grandes argumentos da candidata social-democrata nesta matéria.

O papel do estado foi outro dos temas em discussão. José Sócrates atacou a sua adversária, acusando o PSD de tentar privatizar os vários sectores: saúde, educação, segurança social. Ferreira Leite desmentiu a ideia de que o PSD pretende privatizar qualquer desses sectores, referindo-se em particular à segurança social. MFL disse que, apesar de não concordar com alguns pontos na reforma levada a cabo pelo governo Sócrates, pretende dar estabilidade ao povo português, não tendo em mente qualquer medida a aplicar nesse sector, durante a legislatura.

A saúde foi um dos temas mais acesos do confronto. José Sócrates começou por acusar o PSD de não referir o SNS no seu programa eleitoral, algo que, segundo ele, nunca teria acontecido. Voltou a insinuar que os planos do partido para a saúde estão escondidos e que escondem a intenção de privatizar. Ferreira Leite defendeu e voltou a dizer que se a sigla nem requer é referida, não existem, como é óbvio, qualquer plano de privatazação em torno dessa área. Foram apresentadas algumas propostas por parte do PSD, nomeadamente para a abolir a invenção de Sócrates, as taxas moderadoras de internamento.

Também na educação não houve sintonia entre os dois grandes candidatos a Primeiro-Ministro. Sócrates realçou o trabalho de reparação do Parque Escolar e do investimento na via do ensino profissional. Ferreira Leite criticou o facilitismo gerado nesta legislatura, apelando ao rigor neste sector. AOs professores não foram esquecidos, com MFL a acusar Sócrates de prejudicar claramente a classe, ao impor as suas regras, sem espaço para negociações.

Por último, a coligação. Clara de Sousa dirigiu-se à candidata do Partido Social Democrata para saber qual a sua disponibilidade para chegar a acordo com o Engenheiro José Sócrates e o Partido Socialista. A resposta foi perentória: Não. Para a líder do PSD, está colocado de parte qualquer cenário de entendimento com o PS e o actual PM. José Sócrates jogou à defesa, preferindo esperar pelo dia 27. MFL disse também que não faz chantagem com os portugueses e que espera responsabilidade da parte do PS, caso o PSD vença as eleições com maioria relativa.

Crítica

Era certamente o debate mais aguardado do ano. Frente-a-frente estiveram os dois grandes candidatos a formar governo depois das eleições legislativas. Sócrates conduziu a narrativa, assumindo uma postura mais ofensiva, quase que a julgar Ferreira como ex. Primeira-Ministra, tantas foram as citações do governo liderado por Durão Barroso. Ferreira Leite, pelo contrário, apresentou-se com uma postura que lhe é reconhecida, foi genuína, sem um discurso pré-fabricado, defendendo-se dos ataques de Sócrates e tentando o encostar às cordas em matéria económica e social. As suas interpelações surpreenderam pela positiva, atribuindo um bom nível ao debate. Se o PM beneficiou de uma melhor oratória, a candidata social-democrata beneficiou da transparência do seu discurso.

Em relação aos temas estruturantes, como seria de esperar, não houve novidades. As divergências políticas foram notórias essencialmente na economia e educação. Ao assistir a este debate consegui distinguir claramente dois rumos opostos:
  1. Por um lado, vi um PM com quatro anos e meia de governação, apresentar-se com um discurso recorrente. A ideia de modernização sem olhar a meios, a necessidade de deixar a sua marca assinando grandes obras. José Sócrates vai a eleições com o maior número de desempregados da história da democracia portuguesa; em desentendimento com as várias classes profissionais (professores, magistrados), e mesmo assim tem como lema "Avançar Portugal". Todos queremos que Portugal avançe, mas não deste modo, não com endividamento. Avançar requer confiança, o que o Sócrates perdeu há muito nos portugueses.
  2. Por outro lado, vi Manuela Ferreira Leite mais confiante, embalada certamente pelas últimas sondagens, que revelam um grande progresso do PSD. O sentido de responsabilidade está implícito no seu discurso, não aceitando a visão económica do PS e apresentando uma alternativa política viável. O seu programa, não sendo tão ambicioso,é nitidamente mais objectivo e passível de ser colocado em prática. Apesar da sua dificuldade em exprimir-se, se compararmos com outros lideres partidários, julgo ter surpreendido a maioria dos telespectadores com a sua postura crítica à governação Sócrates.
Não acredito que os debates televisivos inflenciem, de um modo claro, as intenções de voto do eleitorado. Todavia, este foi um instrumento importante para o esclarecimento de algumas divergências entre partidos, nomeadamente em questões estruturantes e de (im)possíveis entendimentos pós-eleitorais. A campanha eleitoral inicia-se agora, depois dos grandes temas de interesse nacional terem sido discutidos ao longo dos confrontos. As eleições estão agendadas para dia 27 de Setembro, dia em que se decidirá qual será o próximo Primeiro-Ministro: José Sócrates ou Manuela Ferreira Leite.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Obama, o Carismático

"I am not the first president to take up this cause, but I am determined to be the last", a frase é de Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos. Decidi escrever este artigo, porque numa fase em que a sua popularidade está em queda, Obama revela todo o seu carisma e a sua resistência. É, de facto, inconcebível que um país desenvolvido, super-potência mundial, não apresente um sistema de saúde universal. O mais incrível é que o Presidente não pretende terminar com os seguros, nem com as seguradoras, tem apenas como objectivo que milhões de norte americanos não morram sem assitência médica ou não fiquem totalmente individados por culpa de uma doença.

A falta de sensibilidade daquele país é conhecida, o que tornará muito difícil a concretização do projecto que Obama tem para o SNS. Mas com estas citações, uma coisa é certa, não se dará por vencido.

José Sócrates vs Francisco Louçã - Integra

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Fascismo?

O texto que vos deixo foi escrito por António Barreto, no Jornal Público, em Janeiro do ano passado. Um ano e meio depois, continua actual e incrivelmente preciso. Para quem apoia Sócrates e a sua ditadura moderna, desafio que comentem este artigo.

"Não sei se Sócrates é fascista. Não me parece, mas, sinceramente, não sei. De qualquer modo, o importante não está aí. O que ele não suporta é a independência dos outros, das pessoas, das organizações, das empresas ou das instituições. Não tolera ser contrariado, nem admite que se pense de modo diferente daquele que organizou com as suas poderosas agências de intoxicação a que chama de comunicação. No seu ideal de vida, todos seriam submetidos ao Regime Disciplinar da Função Pública, revisto e reforçado pelo seu governo. O Primeiro-ministro José Sócrates é a mais séria ameaça contra a liberdade, contra autonomia das iniciativas privadas e contra a independência pessoal que Portugal conheceu nas últimas três décadas. Temos de reconhecer: tão inquietante quanto esta tendência insaciável para o despotismo e a concentração de poder é a falta de reacção dos cidadãos. A passividade de tanta gente. Será anestesia? Resignação?
Acordo? Só se for medo…". António Barreto, in Público.

Análise mais precisa não pode existir. Este excerto foi retirado, repito, de um artigo publicado no Jornal Público, em Janeiro de 2008.