segunda-feira, 14 de setembro de 2009

José Sócrates vs Manuela Ferreira Leite - Resumo e Crítica

O debate mais esperado da série teve lugar na SIC, com moderação de Clara de Sousa. José Sócrates (PS) e Manuela Ferreira Leite (PSD) estiveram frente-a frente para discutirem as suas propostas ao país. A intensidade foi notória em alguns temas, provocando intervenções mais acesas entre os dois candidatos. Foi também o debate mais longo, com 60 minutos de duração.

Resumo

Os principais temas abordados foram: economia, estado social, saúde, educação. O debate terminou com a sondagem, por parte da moderadora, acerca de um possível entendimento pós-eleitoral. Não se referiu o caso TVI, nem o último episódio da Madeira.

Em relação à economia, José Sócrates apresentou-se fiel ao que têm sido as suas intervenções. Voltou a afirmar a necessidade dos grandes investimentos públicos para superar a crise e o apoio do governo, durante a sua legislatura, às PME. Ferreira Leite opôs-se à solução apresentada pelo PM, reafirmou que caso seja eleita suspenderá o TGV e as outras obras de grande envergadura, apoiará as empresas para estimular a economia e criar riqueza. Criticou duramente o rumo político de Sócrates, utilizando a polémica frase "Parece daqueles que mata o pai e a mãe para dizer que é órfão", numa clara alusão às políticas sociais levadas a cabo pelo PS. O endividamento e o incentivo empresarial foram os dois grandes argumentos da candidata social-democrata nesta matéria.

O papel do estado foi outro dos temas em discussão. José Sócrates atacou a sua adversária, acusando o PSD de tentar privatizar os vários sectores: saúde, educação, segurança social. Ferreira Leite desmentiu a ideia de que o PSD pretende privatizar qualquer desses sectores, referindo-se em particular à segurança social. MFL disse que, apesar de não concordar com alguns pontos na reforma levada a cabo pelo governo Sócrates, pretende dar estabilidade ao povo português, não tendo em mente qualquer medida a aplicar nesse sector, durante a legislatura.

A saúde foi um dos temas mais acesos do confronto. José Sócrates começou por acusar o PSD de não referir o SNS no seu programa eleitoral, algo que, segundo ele, nunca teria acontecido. Voltou a insinuar que os planos do partido para a saúde estão escondidos e que escondem a intenção de privatizar. Ferreira Leite defendeu e voltou a dizer que se a sigla nem requer é referida, não existem, como é óbvio, qualquer plano de privatazação em torno dessa área. Foram apresentadas algumas propostas por parte do PSD, nomeadamente para a abolir a invenção de Sócrates, as taxas moderadoras de internamento.

Também na educação não houve sintonia entre os dois grandes candidatos a Primeiro-Ministro. Sócrates realçou o trabalho de reparação do Parque Escolar e do investimento na via do ensino profissional. Ferreira Leite criticou o facilitismo gerado nesta legislatura, apelando ao rigor neste sector. AOs professores não foram esquecidos, com MFL a acusar Sócrates de prejudicar claramente a classe, ao impor as suas regras, sem espaço para negociações.

Por último, a coligação. Clara de Sousa dirigiu-se à candidata do Partido Social Democrata para saber qual a sua disponibilidade para chegar a acordo com o Engenheiro José Sócrates e o Partido Socialista. A resposta foi perentória: Não. Para a líder do PSD, está colocado de parte qualquer cenário de entendimento com o PS e o actual PM. José Sócrates jogou à defesa, preferindo esperar pelo dia 27. MFL disse também que não faz chantagem com os portugueses e que espera responsabilidade da parte do PS, caso o PSD vença as eleições com maioria relativa.

Crítica

Era certamente o debate mais aguardado do ano. Frente-a-frente estiveram os dois grandes candidatos a formar governo depois das eleições legislativas. Sócrates conduziu a narrativa, assumindo uma postura mais ofensiva, quase que a julgar Ferreira como ex. Primeira-Ministra, tantas foram as citações do governo liderado por Durão Barroso. Ferreira Leite, pelo contrário, apresentou-se com uma postura que lhe é reconhecida, foi genuína, sem um discurso pré-fabricado, defendendo-se dos ataques de Sócrates e tentando o encostar às cordas em matéria económica e social. As suas interpelações surpreenderam pela positiva, atribuindo um bom nível ao debate. Se o PM beneficiou de uma melhor oratória, a candidata social-democrata beneficiou da transparência do seu discurso.

Em relação aos temas estruturantes, como seria de esperar, não houve novidades. As divergências políticas foram notórias essencialmente na economia e educação. Ao assistir a este debate consegui distinguir claramente dois rumos opostos:
  1. Por um lado, vi um PM com quatro anos e meia de governação, apresentar-se com um discurso recorrente. A ideia de modernização sem olhar a meios, a necessidade de deixar a sua marca assinando grandes obras. José Sócrates vai a eleições com o maior número de desempregados da história da democracia portuguesa; em desentendimento com as várias classes profissionais (professores, magistrados), e mesmo assim tem como lema "Avançar Portugal". Todos queremos que Portugal avançe, mas não deste modo, não com endividamento. Avançar requer confiança, o que o Sócrates perdeu há muito nos portugueses.
  2. Por outro lado, vi Manuela Ferreira Leite mais confiante, embalada certamente pelas últimas sondagens, que revelam um grande progresso do PSD. O sentido de responsabilidade está implícito no seu discurso, não aceitando a visão económica do PS e apresentando uma alternativa política viável. O seu programa, não sendo tão ambicioso,é nitidamente mais objectivo e passível de ser colocado em prática. Apesar da sua dificuldade em exprimir-se, se compararmos com outros lideres partidários, julgo ter surpreendido a maioria dos telespectadores com a sua postura crítica à governação Sócrates.
Não acredito que os debates televisivos inflenciem, de um modo claro, as intenções de voto do eleitorado. Todavia, este foi um instrumento importante para o esclarecimento de algumas divergências entre partidos, nomeadamente em questões estruturantes e de (im)possíveis entendimentos pós-eleitorais. A campanha eleitoral inicia-se agora, depois dos grandes temas de interesse nacional terem sido discutidos ao longo dos confrontos. As eleições estão agendadas para dia 27 de Setembro, dia em que se decidirá qual será o próximo Primeiro-Ministro: José Sócrates ou Manuela Ferreira Leite.

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