quinta-feira, 23 de julho de 2009

José Sócrates e o Défice

Assistimos, ontem, a mais um triste episódio da série "Sócrates no país das maravilhas". O tema em discussão era o défice na corrente legislatura, quando o Primeiro Ministro decidiu contemplar o povo português com uma frase que caracteriza a sua postura na política e no governo, passo a citar "Está para nascer um Primeiro-Ministro que tenha feito tanto pelo défice como eu".

Ao longo do dia, várias foram as reacções de lideres políticos à declaração de José Sócrates. Entre outros, Jerónimo de Sousa respondeu na mesma moeda, dizendo que está para nascer um Primeiro-Ministro que gere mais desemprego do que actual. Um duro golpe, que certamente não obterá resposta do PM.

A governação de José Sócrates neste mandato faz-me lembrar a escola de futebol holandesa. Apostar tudo no ataque e tentar fazer do mesmo a melhor defesa. O que este Primeiro-Ministro tenta fazer é isso mesmo, é essa a sua estratégia. As declarações proferidas durante o dia de ontem só podem surpreender aqueles que não se informam ou se recusam a encarar a verdade. Na cabeça deste Primeiro-Ministro, que importância terá saber que duzentos mil professores protestam nas ruas? Terá relevância ouvir o que reivindicam? O que importa são os bons resultados nos exames nacionais, está claro. Ou a modernização dos meios tecnológicos nas escolas, sim porque estes trabalham sozinhos, o que importa os recursos humanos e a sua situação profissional?

Este rumo político está tão explicito que, até na hora do adeus de Manuel Pinho, pouco importou a sua péssima actuação com as PME ou as suas declarações lamentáveis ao longo do mandato. O que interessou realçar foi o Projecto Tecnológico, a grande inovação deste governo. É assim que Sócrates gosta de governar, exaltando um ou dois feitos para cobrir três ou quatro erros, mesmo que se tratem de erros graves, como este exemplo.

3 comentários:

  1. Enfim, o unico comentário possivel a fazer é mesmo "quando são as próximas eleições ?".
    Muito bem apanhado, especialmente a questão das "piadinhas" sem piada constante e surrateiramente usadas pelo nosso "querido" José Sócrates para esconder os seus "pequenissimos" erros.
    Parabens (ao bloguista, não confundamos !)

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  2. Nº 1, Rita Barros, vai-te foder. E escreve-se sorrateiramente.

    Agora, vamos para as pessoas que sabem do que falam. Muito bem escrito, Raffa. Gostei do pensamento critíco e julgo poder dar-te razão em determinados aspectos.

    De facto, o nosso PM aposta pouco em defender-se das críticas. É verdade que cresceu muito o desemprego nesta legislatura.

    No entanto:

    1- Foi dito que José Sócrates foi autoritário e autista. Não se preocupou com ouvir os outros. Pois é isso mesmo que ele pretende nos Fóruns Novas Fronteiras: reunir com vários grupos da sociedade, expor as suas ideias e de seguida ouvir as ideias dos outros - pode não se gostar do homem, mas isto para mim é a democracia do futuro. Acrescento também que estes debates são públicos e que todos podem intervir.

    2- Jerónimo de Sousa, e muitos outros, esquecem-se que uma crise capitalista (e por causa desse adjectivo podemos desculpar-lhe a ignorância) como a que estamos a viver tem várias características já perfeitamente consagradas pelos manuais de economia. Faz parte da natureza do capitalismo; tem origem em situações de abuso das regras de uma economia de mercado (nos anos 30 foi a especulação bolsista, agora a exploração do subprime); provoca descida de preços, falências e despedimentos; é internacional. Acerca desta crise podemos então concluir várias coisas: a culpa não é deste nem de nenhum outro governo português; o desemprego e as falências que se deram, na sua maioria, foram portanto motivadas pela crise. Logo, tudo isto se deve à personalidade de Jerónimo: se o teu pensamento é crónico, a sua contestação crónica será.

    3- O que me leva a este ponto. José Sócrates, e o PS, infelizmente para a democracia, são os únicos a ter ideias, a realmente ter espírito inovador no nosso país. A direita é conservadora, e ser conservador é o antónimo de ser inovador; a extrema esquerda vive alheada do mundo, nas suas utopias totalitárias, confia na sua condição também crónica de não-integração dos órgãos de poder para inventar as mais irresponsáveis medidas. E por isso se distinguem do PS: enquanto o PS é proactivo, cria e inova, consegue responder ao que os outros o obrigam - a trabalhar sozinho -, os outros são reactivos, nada propõem, nada inventam, e simplesmente vivem como oposição do PS, a cada medida, a cada diploma, e uma má oposição. Como diria Agustina Bessa-Luís: "O país não precisa de quem diga o que está errado; precisa de quem saiba o que está certo.".

    4- Não me querendo aproveitar do teu lapso, de facto ninguém que está bem-informado se surpreende quando o primeiro-ministro diz o que disse. Porque é verdade. Simplesmente, os órgãos de comunicação social controlados por Espanha (Público, mesmo sendo o melhor jornal português), Angola (Sol), CDS (TVI) e PSD (SIC's e Expresso), fazem as pessoas que não se preocupam a fundo, com afirmações falaciosas e títulos enganadores, pensarem erros deste governo.

    5- Estes professores tiveram o que mereciam. Eram a classe com mais regalias do país, e podiam faltar quando quisessem e fazer o que lhes apetecesse dentro da sala de aulas. O que o governo já veio atrasado.

    6- O plano tecnológico põe Portugal na linha da frente em direcção ao futuro. Coloca computadores em casas que só os teriam dez anos depois, segundo os estudos.

    7- Manuel Pinho pode não ter sido um bom ministro. Mas o que lhe falhou foi a comunicação, que é essencial nos dias de hoje.

    Não te chateio mais. Adorei o texto. Valorizo essencialmente o pensamento crítico para filtrar a informação influenciada pelos interesses económicos, que só fragilizam a democracia. Gostava que todas as pessoas da oposição fossem como tu.

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  3. Antes de mais, ao fim de 3 dias, aparece alguém que faz um comentário válido e que, para além de contrariar, apresenta ideias. Agradeço, sinceramente.

    Em relação ao foi apresentado, permite-me discordar de algumas alíneas no teu discurso. Logo no início , passas a ideia que este PM se trata de um bom ouvinte. Discordo. E discordo pelo seguinte: Não há memória de um PM tão contestado pelas classes, e que tanto desprezasse as manifestações das mesmas. Já para não falar na recorrente descredibilização dos movimentos sindicais, que foram, ao longo desta legislatura, constantemente ignorados.

    De seguida, a explicação que apresentaste para a catástrofe económica em que estamos envolvidos pareceu-me um pouco demagógica, até porque se bem me lembro, a grande promessa eleitoral de José Sócrates foi a criação de 150000 empregos. Terá sido consciente? Será que os números assustadores de desempregados só se começaram a desenvolver numa fase pós-crise? Pareceu-me um argumento um pouco forçado, apesar de o próprio PM já o ter utilizado.

    Na terceira alínea, concordo em parte com o que escreveste, essencialmente no que diz respeito ao totalitarismo à esquerda. O que é, de facto, preocupante para mim perceber é que o povo português tende, actualmente, em votar nesse mesmo totalitarismo, como alternativa à esquerda/direita democrática (PS/PSD). Apesar deste ponto de convergência, tenho que discordar no que dizes em relação à direita. Não classifico a direita como a face conservadora da moeda, muito menos em Portugal, muito menos ainda no PSD (basta relembrar alguns nomes marcantes do partido). Além disso, não percebo a insistência no PS na inexistência de soluções, de programa por parte do PSD, se bem me lembro, no último acto eleitoral, foram justamente os sociais democratas a procurar as classes que, como disse em cima, são constantemente desvalorizadas por este PM. Não se contam também as reuniões levadas a cabo pela dupla MFL/Rangel com o sector empresarial, por exemplo. Ou uma revisão à reforma na educação, de modo a servir o interesse de todos. Estas posições não me parecem conservadoras, mas sim conscientes.

    Quarto ponto: acho caricato, com todo o respeito, que o PS atribua qualquer tipo de controlo da imprensa aos outros partidos, principalmente depois do que se passou há poucas semanas com o negócio da PT. Este talvez tenha sido o ponto que mais me impressionou, não estava à espera.

    Em relação aos professores, fizeste um juízo que considero desnecessário. Isto porque não defendi nem contrariei qualquer medida. O que fiz foi criticar a intolerância deste governo nestas questões delicadas. Mesmo que as medidas sejam as mais acertadas, não se deve ouvir quem está do outro lado e directamente envolvido?

    Quanto ao plano tecnológico, acho que é o ponto alto desta legislatura, sem dúvida! Mas não nos iludamos, porque este foi o único projecto, de facto, inovador. Defendo totalmente esta iniciativa, mas será que tem capacidade para cobrir todas as que questões que temos vindo a falar? Economia, desemprego, etc.

    Vou ignorar o sétimo ponto e ultimo ponto, porque sinceramente estou um pouco farto do Manuel Pinho. Acho que o mandato do senhor foi maçador demais.

    Para finalizar, queria agradecer o tempo que dispensaste a ler o meu texto e pedir-te que visites com regularidade este espaço, de preferência com intervenções ao nível desta. Muito Obrigado.

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